Reflexões de:
A ERA DA AVAREZA
Humberto Mariotti.
“Enquanto não for abalada a nossa convicção da
dicotomia entre o homem e o mundo, continuaremos a nos considerar “autorizados”
a ver a natureza como um butim da guerra que travamos uns contra os outros em
nome da sobrevivência dos “mais fortes”. Pouco ou nada importa que a
“competitividade” leve ao estresse e a outras patologias mais graves, que ela
gere medo, ansiedade, depressão e violência”.
Humbert Mariotti:
O texto de Humberto identifica as causas e consequências do processo avarento,
ou seja, do processo de desenvolvimento do capitalismo e ou globalização e a interferência
na sociedade competitiva, e que esta competição estimula o florar da avareza.
O processo de Globalização é um fenômeno capitalista que já vem desde a
época dos descobrimentos, e começou-se a desenvolver a partir da Revolução
Industrial. A sua origem pode ser traçada do período mercantilista iniciado
aproximadamente no século XV e durando até o século XVIII, com o
desenvolvimento do transporte marítimo, e aumento da complexidade das relações
políticas européias durante o período. Este período viu grande aumento no fluxo
de força de trabalho entre os países e continentes, particularmente nas novas
colônias européias.
Faço aqui as palavras de David Harvey “O capital é um processo, e não
uma coisa. É um processo de reprodução da vida social por meio da produção de
mercadorias em que todas as pessoas do mundo capitalista avançado estão
profundamente implicadas. Suas regras internalizadas de operação são concebidas
de maneira a garantir que ele seja um modo dinâmico e revolucionário de
organização social que transforma incansável e incessantemente a sociedade em
que está inserido. O processo mascara e fetichiza, alcança crescimento mediante
a destruição criativa, cria novos desejos e necessidades, explora a capacidade
de trabalho e do desejo humanos, transforma espaços e acelera o ritmo de vida.
Ele gera problemas de super acumulação
para os quais há um número limitado de soluções possíveis”. Harvey, D. Condição Pós-Moderna, página
307.
Direta e, ou indiretamente para alguns, todos somos influenciados e
influímos no processo econômico, o capital gerou e gera na sociedade a
competição desenfreada, o que em certas ou em muitas situações são produzidos
os processos de avareza.
“Nos antigos tempos e quase também nos
modernos, as relações da comunidade com os seus membros são as de um credor com
os seus devedores”. Nietzsche, Friedrich W: A Genealogia
da Moral, página 67.
O desenvolvimento econômico estimula uma competição entre os países, e
estes, nas corporações e estas têm influências diretas no capital humano. Os
indivíduos são instigados pelas relações econômicas no sistema capitalista, e,
é nestas relações estabelecidas que aflora a competição desenfreada.
O mundo avarento é o mundo da
competitividade.
“Competitividade é a característica ou
capacidade de qualquer organização em lograr cumprir a sua missão, com mais
êxito que outras organizações competidoras”.
“A competição empresarial é um jogo pesado em
que se joga “LIMPO”, mas nunca num campo pesado, e que demanda muita raça e
muita competência para se sair vitorioso. Mais é também uma batalha sem tréguas
que pode levar ao desastre ou a glória, na qual mesmo os vencedores podem sair
machucados”. Prof. Laerte Leite Cordeiro, mestre em Administração e
especialista em Carreiras Executivas. Diretor Geral da Laerte Cordeiro
Consultores em Recursos Humanos.
A palavra limpo está destacada por que acredito que o jogo do capital
não ocorre de maneira limpa, e sendo o jogo no capital, já por isto não pode
ser “LIMPO”.
E citando Edgar Morin: “A educação deve contribuir para a autopromoção da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver)
Um cidadão é definido, em uma democracia, por sua solidariedade e
responsabilidade em relação a sua pátria”. Morin, Edgar: A Cabeça
Bem-Feita, página 65.
E para concluir transcrevo aqui as palavras de Nietzsche. ”Aquele
pequeno mundo interior vai-se desenvolvendo e ampliando à medida que a
exteriorização do homem acha obstáculos. As formidáveis barreiras que a
organização social construía para se defender contra os antigos instintos de
liberdade, e, em primeiro lugar, a barreira do castigo, conseguiram que todos
os instintos do homem selvagem, livre e vagabundo, se voltassem contra o homem
interior. A ira, a crueldade, a necessidade de perseguir, tudo isso se dirigia
contra o possuidor de tais instintos; eis a origem da “má consciência”. O homem
que, por falta de resistências e de inimigos exteriores, colhido no potro da
regularidade dos costumes, se despedaçava com impaciência, se perseguia, se
devorava, se amedrontava e se maltratava a ele mesmo; este animal a quem se
quer domesticar, mas que se fere nos ferros da sua jaula; este ser a quem as
privações fazem enlanguescer na nostalgia do deserto e que fatalmente devia
achar em si mesmo um campo de aventuras, um jardim de suplícios, uma região
perigosa e incerta; este louco, este cativo, de aspirações impossíveis, teve de
inventar a “má consciência”. Então veio ao mundo a maior e mais perigosa de
todas as doenças, o homem doente de si mesmo; foi conseqüência de um divórcio
violento com o passado animal, de um salto para novas situações, para novas condições
de existência, de uma declaração de guerra contra os antigos instintos que
antes constituíam a sua força e o seu temível caráter”. A Genealogia da Moral.
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